14 outubro, 2009

Terminal

















Terminal



Pensou nas velhas histórias ouvidas na infância, as princesas e seus príncipes, as bruxas, os castelos, e os amores impossíveis e em como esses amores venciam o mal e a felicidade enfim reinava entre os bons.
Sorriu um sorriso amassado e empoeirado, que há muito não recolhia do baú.
Do lado de cá das memórias, um desarranjo gástrico amargava a saliva, e fazia do passado uma ferida quase terminal. Encontrara nas cápsulas salvadoras uma forma de retardar o efeito corrosivo das lembranças.
Tentou mais uma vez engolir o presente, mas o futuro... este lhe parecia intragável, causava-lhe náuseas quando tentava imaginar, então optou por ignorá-lo, decidiu que o que lhe era desconhecido haveria de não ser nada.

Achou que seria um bom momento para ver um filme. Amante que era da sétima arte, vestiu de vez aquele sorriso amassado, e tragou todas as cápsulas... todas elas, uma a uma.
Deitou-se, para ver passar o filme da sua vida.

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Na mente atordoada ressoavam sirenes, gritos, choros convulsos, e vinham aos poucos imagens confusas e desfocadas. Corre-corre, cheiro de remédio que se misturava ao cheiro de alcool, éter, ou algo assim. Levou a mão ao rosto, e sentiu a cânula grossa que atravessava sua garganta e causava um desconforto terrível. Tentou puxar, mas teve o gesto contido por mãos ágeis que espreitavam sua reação.

Concluiu enfim que as cápsulas para gastrite não eram tão salvadoras quanto imaginava (ou esperava), da próxima vez tentaria os anti-hipertensivos.
E, claro, deixaria uma câmera ao lado da cabeceira, nunca se sabe quando será mesmo o "grand finale"!

Monica San

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