
Sou, em vida, o que lhes alimenta a alma
sou o riso e o sarcasmo sobre o palco
sou as vestes que encobrem as feridas
Minhas dores são, aos vossos olhos secos
o ranço de um passado sem amores
aos dedos que me apontam os pecados
ofereço sob as vestes, as feridas e os ardores.
Enfiem vossos dedos no que resta dessa carne!
Vasculhem, farejem, cada palmo e cada palma
cuspam se quiserem sobre a sobra do que vale
que aos vermes que esperam, pouco cabe dessa alma.
Riam-se abutres! Com meus olhos joguem dados!
Banqueteiem-se das vísceras, bebam-me em taças
sôfregos, alucinados...arranquem-me a pele e os dentes
Mas meus seios...não, não os toquem, são doentes!
Seios intocados pelo amor tão desejado!
Que permaneçam assim...incólumes, virginais
doentes, desamados, hirtos...meus ais!
E assim, devorada sob a frieza do vosso olhar
e com os seios intactos como os de uma virgem
deixai cair o pano que encerra a minha história!
Não espero de vós aplausos tampouco glórias.
Apenas o fogo (ou o escárnio)
que acenda o meu último cigarro!
E da morte, espero o beijo...
que desflore enfim os meus seios
neste meu triste, e derradeiro ato.
Monica San
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