07 fevereiro, 2009

Último ato

Encaro-vos, pois, pujante e destemida!
Sou, em vida, o que lhes alimenta a alma
sou o riso e o sarcasmo sobre o palco
sou as vestes que encobrem as feridas

Minhas dores são, aos vossos olhos secos
o ranço de um passado sem amores
aos dedos que me apontam os pecados
ofereço sob as vestes, as feridas e os ardores.

Enfiem vossos dedos no que resta dessa carne!
Vasculhem, farejem, cada palmo e cada palma
cuspam se quiserem sobre a sobra do que vale
que aos vermes que esperam, pouco cabe dessa alma.

Riam-se abutres! Com meus olhos joguem dados!
Banqueteiem-se das vísceras, bebam-me em taças
sôfregos, alucinados...arranquem-me a pele e os dentes
Mas meus seios...não, não os toquem, são doentes!

Seios intocados pelo amor tão desejado!
Que permaneçam assim...incólumes, virginais
doentes, desamados, hirtos...meus ais!

E assim, devorada sob a frieza do vosso olhar
e com os seios intactos como os de uma virgem
deixai cair o pano que encerra a minha história!

Não espero de vós aplausos tampouco glórias.

Apenas o fogo (ou o escárnio)
que acenda o meu último cigarro!
E da morte, espero o beijo...
que desflore enfim os meus seios

neste meu triste, e derradeiro ato.

Monica San

Nenhum comentário:

Postar um comentário

Respeite os direitos autorais