24 abril, 2010

Lacuna

 
 Silêncio - tela de Henry Fuseli


Lacuna

Há algo de profano
imundo
pecaminoso
neste vão silencioso
faltam o não,
a ponderação
a consideração
sobram
sins e afins
e mil serafins
cantam celestialmente
melodias e ardis
no silencioso vão
a mente grita

infinita

mente.

Monica San

13 abril, 2010

Tautogramas

Marionetes

Momentos mórbidos
melancolia
maledicência
mal, moléstias
Mares morrendo
menos maresia
menos mágicos
momentos
Mais malefícios
maltratos
morticídio
meninos
molambentos
mães
meras meninas
mais mulheres
menos magia
meninos morrendo
mendigos
meio mortos
marejando
meio-fio
Mutismo
mutretas
mau-caratismo
malogro
mentes massificadas
monstros moucos
malandragem mascarada
muitas mentiras
Mortes manipuladas

Meros

 M
    A             N
        R     O      E
            I                T  E
                                      S  mal-articulados!



Des(afiados)

Desafio dos deuses!
des(afiados)
desatinados
discorremos
des(afinados)

Degladiadores
destemidos
desdenhamos
desconhecidos

Derrotamos
dúvidas dementes
destroçamos
ditos decadentes
disfarçamos dores

desarmamos
desamores
declamamos
dissabores
desenhamos
dias doces
degustamos
dias "decolores"!



Auto-in(definição)

Ato átomos
antagonizo
atos autógenos
atrevo-me
autodefino-me
autônoma
autômata
auto-suficiente
auto-didata
altruísta
anti-racista
anti-capitalista
ativista atípica
ante atitudes
anti-vida
atrevida??
Antes assim.

Monica San

12 abril, 2010

Interstício

Arrepiava-me os pêlos a sensação outonal do teu olhar. O frio, que espalhava liberdade pelas ruas vazias e solitárias, era tanto assustador quanto belo.
Havia um outono entre nós.
O calor da primavera já se ia, levando com ele a alegria e as cores amanhecidas a dois; o sol, um dragão adormecido, me fazia cárcere à sombra dos últimos dias com gosto de fruta fresca.
Restavam as lembranças esmaecidas, que se deitavam ao vento e congelavam à espera de outros amanheceres ensolarados.
E a nuance acinzentada do teu olhar outonal.
E o inverno, que se fez antes do tempo.

Monica San

08 abril, 2010

Tísico

Não fosse a noite
a cópula
das minhas inquietudes
e a madrugada
meu tempo fértil
meus dias jamais nasceriam

seriam escarrados
feito tubérculos
arrancados
e  definhariam
minuto a minuto
como se viver
não fosse nada mais
do que esperar pela morte.

Ainda anoiteço
como se adormecer
fosse cultivar um novo dia
anoiteço,
e planto sonhos
e espero a morte
hora a hora
ora vida
ora agonia.

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