31 março, 2009

Amar, ato único

Preciso de um tempo pra um mergulho!

Abrir-me em vôo livre nessa infinitude
que me traga e faz de mim uma estranha
dentro do meu próprio ninho.

Fiz das dores que me sangravam o peito
versos cravados nos olhares mesquinhos
que tentavam desnudar-me cruelmente

Fiz das madrugadas negras e solitárias
linhas tecidas em pura melancolia ou
ardorosas, ousadas, e deliciosamente lascivas.

Ironizei e satirizei a miséria que me rondava
em poemas metrificados, sonetos bem talhados
e ri do meu próprio sarcasmo, satisfeita.

Declarei amores impossíveis e equivocados
só pelo gosto de sentir-me plena, transbordante
como só quem ama é capaz de sentir-se.

Mas agora, que as dores já não sangram
que as madrugadas já não são tão vazias
nem a miséria ou a mesquinhez do mundo
são capazes de me tirar o sono e a calma

e, que já não amo equivocadamente
mas por outra, o sinto (o amor) plenamente
curiosamente, faltam-me os versos.

Ou será que me sobram?

Sei,
é que tem um sorriso bobo estampado no rosto
de quem deixou a poesia transbordar
e se fez poema, no simples ato de amar!

Monica San

Prenhez de poeta


Acendo e apago as luzes do meu dia
com a força da verve que me compõe poeta
Adormeço o Sol quando seu fogo me exauri
fazendo arder as vontades de fartos oásis
que não podem saciar a minha sede
pois não alcançam mais do que os meus olhos.

Deixo que o Sol se resguarde do meu apetite
e das minhas vontades, que também o exaurem
E desenho noites escuras, sem brilho de estrelas
mas com a solidão da lua que se faz cúmplice
dos desmandos e desvarios de poetas e loucos.

Segredo a ela os pensamentos mais funestos
os desejos mais inconfessos, os devaneios mais absurdos
E, numa cumplicidade declarada, colho de seu brilho
pálido e insólito, a energia que me refaz.

E refeita, reacendo o Sol...amante voraz de todos os meus dias!
Que me penetra o ventre com seus raios de fogo
e me torna prenhe de amor, de vida e de poesia.

Monica San

In natura

Nas linhas que te compõe
perdi o rumo da minha prosa
Mareada pelos teus desvelos
errei a rima, perdi o verso
num caminho controverso
sequei a inspiração que jorrava
quando do teu jorro me fartei!

Sugaste-me as palavras
com o fervor da tua língua
e aninhado entre meus seios
desnudou-me os segredos

No abrigo do teu corpo
sou poeta em afasia
sem rima, sem verso
sem prosa nem poema...

só gozo

só tua

só poesia.

Monica San

Poeminha acanhado

Todo sangue vertido em dores
todas as dores sangradas em versos
todos os versos que fiz em prantos
e todo pranto...agora é encanto!
No meu sorriso que enfim se abre
saudando a vida que em mim não cabe!

Talvez não dure mais que uma chispa
de Sol ardente a iluminar
um dia novo, uma nova vida
que pulsa em mim, querendo vingar!

Talvez não tenha a inspiração
que transbordante faz encantar
talvez não seja tempo de glórias
mas só um tempo pra maturar...

E ser semente de boa nova
só com sorrisos pra alumiar!

Monica San

15 março, 2009

(S)em segredo



Tão úmidos e túmidos
teus lábios segredam meu fado
Entreabrem-se ao meu paladar
salivando desejos
aguçando-me beijos
sussurrando desvelos

Doce sabor que me tesa
fazendo da língua, presa
no farfalhar sem destreza
que deixa escapar
sem defesa
teus desejos perdidos
nos ensejos dos seios
que te acenam entumecidos

Doce incerteza no ensejo
das mãos que percorrem as fendas
do olhar nu, que me desvenda
dos pelos que roçam veredas
por onde adentras
teu corpo contentas
e enreda nas minhas sedas.

Doce (e cruel) sabor da espera!
Que venhas aos meus desvelos
locupletando-me os meios
e segredando-me enfim os teus beijos!

Monica San

07 março, 2009

Divagando...

Tenho sentido medo dos olhos mesquinhos do mundo...medo, que o meu amor não resista e eu me torne um deserto.

Monica San

06 março, 2009

Dia internacional da mulher, dos sonhos e das conquistas femininas


O Homem é um ser inquieto e naturalmente curioso. Desde os primórdios da humanidade os mistérios da vida e do universo são matéria de estudos profundos e teorias das mais diversas.
O pensamento científico contrapõe-se ao pensamento religioso, o homem torna-se observador e observado, e a vida gira em torno de perguntas e questionamentos acerca da nossa origem.

O que não se pode negar, é que, tanto para as religiões quanto para a ciência, a mulher guarda consigo o que talvez seja o maior mistério do universo.
É ela quem gera a vida, é através dela que a vida humana é preservada durante o tempo certo para florescer. É ela quem faz germinar a nova semente e a traz à luz.

E a história mostra, que ser o templo guardador desse mistério fez da mulher um ser temido, muitas vezes sacrificado, subjugado e desvalorizado.
A mulher é, segundo a socióloga Days Elucy Siqueira, "o único animal capaz de sangrar por dias, e tornar-se ainda mais forte".
Conhecedora dos mistérios da natureza foi por muito tempo caçada como bruxa, hereje, feiticeira. Representava um poder natural, capaz de subjugar o poder e a inteligência do homem.

Já fomos caçadas, queimadas em fogueiras, tornamo-nos através do poder capitalista meros animais domesticados, usados como exemplo de dominação e força para manter a hegemonia e o statu quo de um poder baseado em falsos valores morais e carregado de hipocrisia. Usadas como objeto de prazer fácil, como instrumentos de manutenção dos costumes machistas por muito tempo respeitados como parte necessária à educação do homem.
Já vivemos os extremos da racionalidade humana, da sabedoria natural da "Bella dona" ao conhecimento empírico e arrancado a fórceps nos movimentos feministas, (surgidos ainda na expansão do capitalismo) através dos quais conseguimos, nas lutas por igualdade social, começar a ser respeitadas e valorizadas não apenas como mulheres, mas especialmente como seres humanos.

Hoje, ainda vivemos as desigualdades relativas ao gênero. Salários menores, menos oferta de emprego em determinados setores, pouco espaço na vida política, porém, os movimentos feministas agora mais estruturados e com mais força ainda lutam por igualdade e justiça para a mulher.
Como todas as conquistas da humanidade, a luta por igualdade entre homens e mulheres é lenta e sem tempo certo para terminar. Se é que terminará um dia.
Mas o que de fato importa, é saber que hoje apesar de sangrarmos e sofrermos ainda, já não seremos queimadas em fogueiras. E, que aquelas que foram, nos tornaram ainda mais fortes e decididas a mudar o rumo dessa história.

E também, que comemorar o dia internacional da mulher não é uma questão de mostrar ao homem a superioridade da mulher, mas ao mundo a capacidade que temos em superar as dificuldades, e olhar para a história com a ternura natural do Ser feminino sem tomar-mo-nos de ódio ou rancor, mas enchendo-nos de coragem e determinação.
E que nunca, jamais, deixaremos de sonhar com o dia em que homens e mulheres junto, poderão celebrar a única diferença que realmente importa. E, a única capaz de tornar-nos, unidos em nossas diferenças (sendo um só) na concepção da vida.

Monica San

Foto: Miguel Cebolas - galeria Olhares.com

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