28 junho, 2009

Quarto mistério


Quarto mistério

Abaixo de zero
eu rio, sorrio, espero
eu zero
as contas e às tontas
desespero
Abaixo de zero
coração sem contas
terço sem reza
num quarto
mistério
Fria é a faca que corta e fere
frio é o corte que sangra o quente
que corre em vertente
marcando a pele
na agonia latente de quem
sempre espera
exaspera
e sente
Quente...
teu corpo fremente
me estanca
me salva
me queima
me esgota
abaixo de zero...
me eleva, aquece e conforta
Num quarto crescente
coração é mistério
é reza que cessa
a alma doente.

Monica San

Entrega

Calo no teu corpo a boca da noite
quando o calor da tua pele
é, da alma minha, o açoite.
E no silêncio do meu corpo castigado
pelo teu, em mim cravado
adormeço a solidão dos meus dias
e me esqueço...
como quem sonha acordado.

Monica San

Horizonte viril

Cavalos de fogo percorrem velozes
um céu que se estende à um olhar pueril
são línguas sedentas que buscam teu corpo
olhar que vislumbra um horizonte viril.

Ao longe, desnudo, estende-se em leito
entregue ao contento do mais puro ardil
Cavalgam velozes teu corpo perfeito
os meus pensamentos, meu corpo febril.

Tocar teus intentos, roçar tua verve
beijar tuas trilhas beirando teu mar
fazer que teu veio aos poucos se enerve
desejos insanos de quem sabe amar.

Cavalos de fogo no teu horizonte...
teu corpo é meu porto, teu jorro minha fonte.

Monica San

Em tempo

Tenho maculado minhas "ricas" horas
com a branquidão cruel do vazio.

Por maiores que sejam os pensamentos
sinto como se fossem tão vagos
quanto a certeza do dia seguinte.

Por maiores que sejam os sonhos
sinto como se não fossem merecedores
de versos, rimas, ou de um discurso poético
que valha fechar os olhos sem culpas ou medos.

Por melhores ou piores que sejam meus momentos
não os sinto capazes de compor um poema
de estenderem-se num lirismo contemplativo
capaz de iluminar e tocar os olhos alheios.

Sinto que meus versos estão secos e retorcidos
feito a paisagem do sertão, castigado pela ausência
ausência de água, ausência de vida, ausência de Deus.

A areia escorre...e o tempo se transforma
num grande e solitário deserto.

Penso, que talvez haja um abismo
entre o poeta e sua inspiração
um abismo que ensina que é preciso olhar além
que é preciso acreditar que o impossível não existe
e apostar naquilo que não se pode tocar
mas que se pode sentir.

É preciso não temer o infinito (esse desconhecido)
e deixar que a poesia crie asas
para transpor o abismo.

Monica San

Traço (in)certo

Há muito que cedi meu corpo
doei minha alma
entreguei meus olhos
e das minhas mãos incertas
fiz a certeza do traço
que me traduz no descompasso
que me conduz no desenredo
que me perfaz no "ex-passo"
e me desfaz.
Sou a anti-matéria
do que antes foi peso (morto)
sou etérea e sou elementar
quando traço (incerta)
a linha imaginária
que me refaz
num ponto qualquer
do (uni)verso.

Monica San

01 junho, 2009

[Con]trato

[Con]trato

Agoa a minha boca
o gosto da tua língua
Salivo no teu palato
a fala que intercala
o falo que em mim resvala
Selando este contrato
no trato em que a tua tara
me esgota e me deixa à mingua.

Monica San

O som do mundo

O som do mundo me atormenta.
São tantos os gritos e gemidos
confusos entre a agonia e o prazer
são tantas palavras e linhas cruzadas
desplugadas de nexo
atormentadas na linha do tempo
que insiste em seguir contando
cada micro-segundo
de contratempos
descaminhos
e desalinhos.

O som do mundo me confunde
São vontades proibidas
maldades permitidas
sonhos mal dormidos
entre acordes mudos
mentiras mal-ditas
e verdades mentidas.

O som do mundo vem do fundo
De uma vontade desmedida
de ser nada, que valha
em meio à esse tudo absurdo
que me ensurdece e cala.

Monica San









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