26 outubro, 2013

Há dias

O riso nem sempre é alegre
o choro não é só dor
a vida nem sempre é leve
o espinho não mata a flor

nem tudo é como se deve
verdade não tem razão
a morte nem sempre é breve
mentiras não tem perdão

se canto a vida se alegra
se rio esqueço a dor
no choro é que a gente rega
à duras penas o amor

assim se escreve uma história
com dias que se entrelaçam
nas linhas se perdem as horas
em dias que pedem um abraço.


Monica San

25 outubro, 2013

Magia

É, o sono vem chegando
e com ele
vai-se despindo a noite
dos sonhos, dos amantes
dos poetas e dos loucos
que nunca adormecem

e, nua de encantamento
a noite amanhece dia.


Monica San

Fêmea celeste


Belo corpo
que ascende 
e engravida

prenha de sonhos
amores, desamores

és da paixão
o canto
da solidão
o recanto
do poeta
toda encanto

sempre ímpar
sempre noite!


Monica San

19 outubro, 2013

Embebida

dispenso o copo
que em bebida
sinto a alma
e transbordo!
verto você
até o último gole.

Monica San

17 outubro, 2013

Mítico

são de amor
todas as canções
que ouço agora

do teu ou do meu
desse que foi
outrora

hoje é mundo
neste vasto
pulsar afora

amor de antes
amor de agora

nessa paz
que se confunde
ora dentro, ora fora

amor de sempre
amor de amora!



Monica San

12 outubro, 2013

Desejo

que não fosse a cara metade
mas que a parte que fosse
se encaixasse suavemente
profundo, além da carne
que não compreendesse tudo
não soubesse dos meus versos
nem o óbvio...mas que me sentisse
em tempo, escorrendo poemas
entre poros, veias e pernas
que não viesse com a sutileza
dos romances mais adocicados
mas, de espada em punho
me arrebatasse das raízes
bravo, bruto, e dono
feito guerreiro talhado 
no sangue que verte da lida
que não me fizesse sua
por honra ou força
mas entregue e cúmplice
pela força do inexplicável
do incompreensivel, do mistério
que em si carregam 
os sentimentos mais nobres
que não fossem nossos todos os dias
mas que nos soubessemos além 
do tempo, da distância, da falta
e que, ao adormecer 
o meu dia no seu, o seu em mim
fôssemos promessa
não de eternidade, mas de plenitude
pelo tempo que fosse.

Monica San

Pensando alto demais

Por vezes, a dor física castiga o corpo e supera os limites da resistência humana. Mas quando a dor supera os limites do corpo, e faz sentir-se na alma, o universo parece pequeno demais e um grito que fosse capaz de transpô-lo seria insuficiente... silenciar talvez seja a única forma de amenizar a dor, apaziguar este embate entre corpo e alma, e dar ao coração a oportunidade de continuar batendo, por mais que isto lhe pareça em vão.

...palavras nunca são suficientes, e poetas... são sempre inconsequentes - utilizam-se delas pra que o silêncio não se traduza em solidão.

Monica San

Do que já se foi

Vez ou outra
tempo faz ventania
traz cheiro
traz gosto
e faz poesia

deixa saudade.

Monica San


10 outubro, 2013

Aluada (desconversando)

Repara bem
tem lua no céu?
(...)
não sei, só sei que
perdi o sono

no céu da tua boca

Monica San

De nada (porque ser criança é mais legal)

beijo melecado
bumbum todo molhado
choro de manha
pezinho atrapalhado

e a gente não sabe de nada...

dedo na tomada
brinquedo esparramado
banho de torneira
febre, dor, machucado

de nada a gente sabe...nada

caderno bagunçado
perguntas sem saída
paquera, descobertas
e não é tempo ainda

nada dessa vida... sabe nada

o tempo vai passando
a criança caminhando
a vida, uma virada
e não se sabe ainda

nada, nada, nada...

se o tempo é passado
tráz de volta a criança
e nada... nada, nada

na torneira, no tanque, nos sonhos

nada nessa vida!

Monica San

Pena

Se eu soubesse
o que me reserva o destino
seria tão simples:
sentaria à beira de uma praia
e o esperaria chegar

e ficaria ouvindo o mar
olhando os pássaros
e o vai e vem das ondas
e o sol...que vem e vai
beija o mar, e se deixa beijar
beija o mar, e se deixa beijar

e a vida passaria por mim
leve, leve, leve...

e o destino que me soubesse
ali, a espera dele
viria feito uma brisa
que dali me levasse
pra qualquer outro lugar

tão leve...

ah, mas seria fácil demais
e destino que é destino
tem que fazer pensar
e fazer penar...
e fazer penar e penar
e pensar...
até que se chegue a algum lugar

ou não (?)

Monica San

ainda "Pensando alto"

Haveria alguém de inventar uma forma para armazenar os pequenos momentos de paz, em pequenos frascos bem simples e transparentes, que não maculassem de forma alguma a essência ali contida. 
Então, nos momentos de balbúrdia, caos, agonia, quando mais se precisasse dela, a paz estaria ali: à mão e ao alcance da alma atormentada.
Feito um antídoto contra todo o mal da humanidade.
Utopia? Por certo... mas estar em paz nos põe a acreditar, e é isso que nos move.

Monica San

Não custa nada

os sonhos... de onde vem?
da paz ao final de cada jornada
ou do caos que revira a alma?

vem dessa coisa toda
e tece ao fechar dos olhos
e ao sabor das vontades

a teia que dá sentido à vida!


Noturna

Eu não sou do dia
sou é da noite
mesmo que ela permaneça
do lado de fora da janela

por mais que o sol me aqueça
é na cumplicidade da lua
que segredo as minhas fases
e as minhas tantas faces

e nas horas mortas
no silêncio e na agonia da noite
é que faço e desfaço
versos, sonhos, e amores.

Monica San

Da série "Pensando alto"

Quanto de fé, determinação, e sonhos é necessário para derrubar o mal?
Até onde se pode levar e elevar os sentimentos... até a exaustão da alma?
Fico pensando, e pensando, e pensando...e mais uma vez, sem respostas, levo o corpo a algum lugar onde já não encontro descanso há um bom tempo. 
Por mais que os olhos se fechem e o mundo silencie, o tempo é implacável: na próxima manhã o pouco será ainda menos.
As noites são mais curtas agora, os dias parecem não ter fim e os sonhos... perdem-se dos olhos a medida em que o coração vai perdendo a maciez dos sentimentos puros. 
E por mais que o sorriso insista em abrir-se irradiando luz e tentando derreter o gelo à sua volta, os lábios também se cansam. E salivam o último beijo roubado, a última palavra sincera, o último riso solto...

Monica San

Um dia destes

Amanheceu mas o corpo pedia mais... talvez não fosse o corpo.

Monica San

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