26 maio, 2011

"La vie en rose"

Algumas vezes é preciso despir-se de todo ranço, desfazer-se dos cantos e frestas de estimação que acumularam contas atrasadas, promessas amarrotadas, pedaços de sonhos esquecidos, para sentir-se apenas viva.


Então ela dança. 

Na velha vitrola, companheira dos momentos a sós, Piaf ainda lhe segreda sobre os amores, as desilusões, o sucesso, a dor.
São cúmplices na melancolia que percorre os cômodos agora vazios e imensos, maiores, muito maiores do que a solidão, antes tão temida agora tão íntima e leve. Como leves são os movimentos dos pés descalços que rodopiam pelo salão, deslizam, saltitam, e acompanham incansáveis o vai e vem das mãos delicadas e firmes (ainda), apesar dos pesares.


Nada de escritos hoje, nada das letras rígidas, dos pensamentos medidos, dos desabafos contidos (nunca se diz realmente o que se deseja dizer). Ah, o hiato, há sempre um hiato a incomodar a razão castigada pelo tempo. Razão que aprisiona quando o desejo é libertar.
Mas hoje não. Hoje não há melancolia nas palavras (não nas palavras), nem tristeza, nem razão.
Só a música e a solidão, rodopiando pelos cômodos vazios e imensos. E toda a cumplicidade de quem se sabe, de quem realmente se sabe viva.
Amanhã é outro dia e... quem sabe amanhã... a vida amanheça rosa.

Monica San

22 maio, 2011

Reescrita




Reinvento o amor
na simplicidade de um beijo
e com asas de beija-flor.


Monica San

Desaforozinho


 Um dia ainda beijo um sapo
(só de birra)
não que eu acredite em príncipe encantado
mas posso (não posso?)

me apaixonar por um batráquio.

Monica San




18 maio, 2011

Conclusiva II

Ainda me pergunto onde moram
a sutileza dos olhares que se entrecortam
e a delicadeza das mãos que tateiam arrepios...

nem todo romantismo é careta
nem todo erotismo é vazio.


Monica San

Composição


E se eu te pedir
que me esqueça
dentro de um abraço?

E nesse teu abstrato

que eu seja parte
que eu seja arte
que eu seja traço.


Monica San

09 maio, 2011

Peleja

...e a vida que de imensa
num sopro se faz mistério
é assim feito o infinito
que aos olhos perde a noção
de tanto que é indizível
e não se mede na mão
é palmo a palmo um segredo
de tão imenso faz medo
confunde até a razão
...e a vida que é tão bonita
essa mesma as vezes sofrida
escorre por entre vãos
é tempo que não se para
relógio que não desanda
batida que ora dispara
e não se colhe nas mãos
...e a gente que não entende
vasculha a compreensão
no oco do fim do mundo
teorizando de um tudo
tentando explicar contudo
os mistérios da criação
Quem sou eu, quem é você?
De que barro fomos feitos?
quanto pode isso valer

se de tão imperfeitos que somos
as vezes nem nos fiamos
em nosso próprio querer?
pobre homem tão confuso
tão perdido e obtuso
nem sempre sabe o que busca
mas mata, humilha e ofusca
em nome de um tal saber.



Monica San

08 maio, 2011

Levada

Te conto um conto
você me dá um sorriso
e a vida levada
solta vai nesse riso

rio que leva o siso

e leve lava o que for
preciso ou impreciso.


Monica San

01 maio, 2011

Enleio

 

Longe alguém canta
 indiferente desconhecido
aqui, me sinto.

Monica San

Prognóstico

Tenho vivido dias que entalam na garganta, absolutamente intragáveis. "Dias antibióticos para males insistentes".
Meu organismo resiste ao tempo, não aceita tratamento e ainda responde:
- Quer a pureza curativa, quer o amor que liberte sem efeitos colaterais, quer amar irremediavelmente até que a vida defina seu curso.

A febre é galopante e os delirios beiram a loucura.


Monica San

Por toda vida

Procuro um amor que se esconde
onde a palavra é doce,
os olhos são ternos
e onde as mãos plantam liberdade.

Monica San

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