17 outubro, 2009

Mea culpa





















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Foto: Susie McKay Krieser

Mea culpa

Sou tão egoísta quanto covarde.
Agarro-me às letras,
(anjos redentores ou demônios
sedutores, não sei ao certo).
O certo é que bebo delas até
a embriaguez ou até gozar
em versos toda a sorte de males
que me surtam. Desfloro seus hímens
intactos quando as manipulo
inconsequente e cheia de lascívia.
Tão puras e tenras, maculadas pelo
falo da minha fala.

Pobres anjos
que em suas asas coloridas
carregam o negrume mórbido
das minhas entranhas, corroídas
pela covardia do dia seguinte.
Amanhecer é sempre um bicho de sete cabeças.

Quando endemoniadas
pelas minhas vontades e vaidades,
e pela ausência de lucidez que
me permite ainda amanhecer sem dor,
dançam sobre meu corpo e pisam
o meu sexo fazendo-me arder e
sentir o ventre cheio.
Sinto uma necessidade visceral
de expelir do bucho fecundo
rebentos dos meus devaneios.

Acho mesmo que se apiedam de mim
(elas, as letras)
Por isso ainda me vestem as partes nuas
enquanto eu, ingrata que sou
trato de profaná-las nas mesas de bar
ou em alguma cama sem dono.

Monica San



2 comentários:

  1. Magnífico moniquinha!
    um poema com características de uma grande poetisa que você é!
    Beijão no coração!

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  2. Adorei amiga, vou colocar nos meus favoritos...

    Parabéns...

    Bjins

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