04 janeiro, 2010

Presa





















Queria que teus olhos fossem menos pontiagudos. Que não me trespassassem assim, como se minha carne não oferecesse resistência alguma ao teu sal e ao vinagre da tua saliva. Dispões das minhas partes como a preparar o teu banquete, mas limita-se a degustar lentamente como se teu apetite ainda estivesse morno.
Ainda sangro.
Enquanto afias teus caninos em outros ossos, de presas já devoradas, por certo mais saborosas ou mais "ao ponto" que eu.
Ainda sangro.
Enquanto me preparas, a fogo lento, para adornar a tua mesa e fazer parte do teu banquete.
Ainda sangro ao sentir o teu apetite e imaginar a força dos teus dentes, mas agora, meu sangue é a lava que escorre do teu vulcão em chamas, quando me chamas para saciar a tua fome.
Entre teus dentes encontro meu ponto.
E meu sangue escorre, quente, pelos cantos da tua boca.

Monica San

4 comentários:

  1. Que coisa forte, Moniquinha! Meio assunstador até. Mas está muito bem escrito, de uma realidade que demonstra a coragem para soltar a fera que existe dentro de cada um de nós. Parabéns.

    ResponderExcluir
  2. Gostei, gostei mesmo. Seus textos são sempre tão fortes...

    Abraço.

    ResponderExcluir
  3. Basilina querida, que bom vê-la por aqui.
    Alguns dos nossos sentimentos por vezes podem ser assustadores... mas acho que a arte de escrever nos permite torná-los menos graves ou mais ousados, a medida em que nos permitimos usar e abusar da imaginação. Essa é a grande magia de ter o controle da pena.
    Beijos minha linda, e obrigada pela visita!

    ResponderExcluir
  4. Oi Fernanda! Fico feliz que goste das minhas viagens, obrigada pela presença, volte sempre.
    beijo!

    ResponderExcluir

Respeite os direitos autorais