19 janeiro, 2010

Sementeira


Tenho buscado em linhas
por vezes rotas e tortas
a sutileza
das verdades universais
a objetividade
das conclusões imprescindíveis
a sobriedade
dos momentos silenciosos
as certezas mais simples
as palavras mais certas
o pouco que alimenta
a alma carente de crenças
Mas hoje, preciso da fartura
da gula que se sobrepõe
da falta que transcende
buscando os excessos
Preciso do grito que mata o silêncio
e fala de uma dor escancarada
de um amor negado, um corpo cansado
Preciso do útero sangrando
pedindo pra se fazer fecundo
e ser vida em contrapartida
desafiando as dores do mundo
E preciso da língua
essa, que extrapola limites
que desvenda sabores
intercalando fendas,
transpondo vertentes
ou fragmentando acidamente
hipocrisias e idolatrias
Preciso dela trazendo à boca
o gosto tácito da febre insana
que me compõe de sabores mórbidos
que me transpõe numa ânsia louca
e faz do corpo só um invólucro
da alma livre que não contenta
do amor que abunda e não se cansa
de semear a palavra viva.

Monica San

2 comentários:

  1. Oi, querida! Vim retribuir-lhe a gentil visita. Que poema maravilhoso e profundo. Lindo..amei mesmo, sem falso elogio. Adoro esse desabafo literário que soa como algo sem fôlego, assim meio dolorido, cuja necessidade de se fazer escrito atropela a pontuação. Quase sem vírgulas, de sopetão, como algo que estava preso e precisa muito ser dito.
    Um grande beijo no seu coração!

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  2. Oi Cris, obrigada minha linda. Fico realmente feliz por ter gostado, e pela visita.
    beijos!!

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