Algumas vezes é preciso despir-se de todo ranço, desfazer-se dos cantos e frestas de estimação que acumularam contas atrasadas, promessas amarrotadas, pedaços de sonhos esquecidos, para sentir-se apenas viva.
Então ela dança.
Na velha vitrola, companheira dos momentos a sós, Piaf ainda lhe segreda sobre os amores, as desilusões, o sucesso, a dor.
São cúmplices na melancolia que percorre os cômodos agora vazios e imensos, maiores, muito maiores do que a solidão, antes tão temida agora tão íntima e leve. Como leves são os movimentos dos pés descalços que rodopiam pelo salão, deslizam, saltitam, e acompanham incansáveis o vai e vem das mãos delicadas e firmes (ainda), apesar dos pesares.
Nada de escritos hoje, nada das letras rígidas, dos pensamentos medidos, dos desabafos contidos (nunca se diz realmente o que se deseja dizer). Ah, o hiato, há sempre um hiato a incomodar a razão castigada pelo tempo. Razão que aprisiona quando o desejo é libertar.
Mas hoje não. Hoje não há melancolia nas palavras (não nas palavras), nem tristeza, nem razão.
Só a música e a solidão, rodopiando pelos cômodos vazios e imensos. E toda a cumplicidade de quem se sabe, de quem realmente se sabe viva.
Amanhã é outro dia e... quem sabe amanhã... a vida amanheça rosa.
Monica San
26 maio, 2011
25 maio, 2011
22 maio, 2011
Desaforozinho
Um dia ainda beijo um sapo
(só de birra)
não que eu acredite em príncipe encantado
mas posso (não posso?)
me apaixonar por um batráquio.
(só de birra)
não que eu acredite em príncipe encantado
mas posso (não posso?)
me apaixonar por um batráquio.
Monica San
18 maio, 2011
Conclusiva II
Ainda me pergunto onde moram
a sutileza dos olhares que se entrecortam
e a delicadeza das mãos que tateiam arrepios...
nem todo romantismo é careta
nem todo erotismo é vazio.
Monica San
a sutileza dos olhares que se entrecortam
e a delicadeza das mãos que tateiam arrepios...
nem todo romantismo é careta
nem todo erotismo é vazio.
Monica San
Composição
E se eu te pedir
que me esqueça
dentro de um abraço?
E nesse teu abstrato
que eu seja parte
que eu seja arte
que eu seja traço.
Monica San
09 maio, 2011
Peleja
...e a vida que de imensa
num sopro se faz mistério
é assim feito o infinito
que aos olhos perde a noção
de tanto que é indizível
e não se mede na mão
é palmo a palmo um segredo
de tão imenso faz medo
confunde até a razão
...e a vida que é tão bonita
essa mesma as vezes sofrida
escorre por entre vãos
é tempo que não se para
relógio que não desanda
batida que ora dispara
e não se colhe nas mãos
...e a gente que não entende
vasculha a compreensão
no oco do fim do mundo
teorizando de um tudo
tentando explicar contudo
os mistérios da criação
Quem sou eu, quem é você?
De que barro fomos feitos?
quanto pode isso valer
se de tão imperfeitos que somos
as vezes nem nos fiamos
em nosso próprio querer?
pobre homem tão confuso
tão perdido e obtuso
nem sempre sabe o que busca
mas mata, humilha e ofusca
em nome de um tal saber.
Monica San
num sopro se faz mistério
é assim feito o infinito
que aos olhos perde a noção
de tanto que é indizível
e não se mede na mão
é palmo a palmo um segredo
de tão imenso faz medo
confunde até a razão
...e a vida que é tão bonita
essa mesma as vezes sofrida
escorre por entre vãos
é tempo que não se para
relógio que não desanda
batida que ora dispara
e não se colhe nas mãos
...e a gente que não entende
vasculha a compreensão
no oco do fim do mundo
teorizando de um tudo
tentando explicar contudo
os mistérios da criação
Quem sou eu, quem é você?
De que barro fomos feitos?
quanto pode isso valer
se de tão imperfeitos que somos
as vezes nem nos fiamos
em nosso próprio querer?
pobre homem tão confuso
tão perdido e obtuso
nem sempre sabe o que busca
mas mata, humilha e ofusca
em nome de um tal saber.
Monica San
08 maio, 2011
Levada
Te conto um conto
você me dá um sorriso
e a vida levada
solta vai nesse riso
rio que leva o siso
e leve lava o que for
preciso ou impreciso.
Monica San
você me dá um sorriso
e a vida levada
solta vai nesse riso
rio que leva o siso
e leve lava o que for
preciso ou impreciso.
Monica San
01 maio, 2011
Prognóstico
Tenho vivido dias que entalam na garganta, absolutamente intragáveis. "Dias antibióticos para males insistentes".
Meu organismo resiste ao tempo, não aceita tratamento e ainda responde:
- Quer a pureza curativa, quer o amor que liberte sem efeitos colaterais, quer amar irremediavelmente até que a vida defina seu curso.
A febre é galopante e os delirios beiram a loucura.
Monica San
Meu organismo resiste ao tempo, não aceita tratamento e ainda responde:
- Quer a pureza curativa, quer o amor que liberte sem efeitos colaterais, quer amar irremediavelmente até que a vida defina seu curso.
A febre é galopante e os delirios beiram a loucura.
Monica San
Por toda vida
Procuro um amor que se esconde
onde a palavra é doce,
os olhos são ternos
e onde as mãos plantam liberdade.
Monica San
onde a palavra é doce,
os olhos são ternos
e onde as mãos plantam liberdade.
Monica San
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