09 maio, 2009

"La habanera"

Ah, que me venha a morte!
Mas não sem antes, a boa sorte
de enredar no ventre tantas vontades
matar nos lábios tantas saudades
calar nos seios falsas verdades

Que a morte venha serena e breve
num beijo cálido
num sopro leve
ou venha logo num fio de adaga
cravando o ventre
sangrando a mágoa

Mas não sem antes de amar aos fardos!
Doar meu corpo a tantos outros
e dar guarida a tantas línguas
fremindo a fenda que não contenta
calando a fala, amando em bicas.

Que venha pois o gozo profundo
num eco esdrúxulo de um fim de coito
E a morte seja só o conforto
de quem sorveu todo o amor do mundo!

Monica San

"O amor é filho da boemia
e jamais se sujeitou à leis
se não me amas, eu te amo
mas se eu te amo, se te amo
toma cuidado."
Trecho da ária Habanera, da ópera Carmem, de Bizet.


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