22 fevereiro, 2010

AVSEAS

Não sei muito bem dessa inquietude

desse vazio insistente

dessa falta que nunca contenta

Não sei dos pontinhos que seguem

um a um, numa eterna reticência

como se o final não fosse um ponto

a ser alcançado,

mas uma constelação


iluminada, bela e distante

cuja simples contemplação valha

tantas perguntas lançadas a esmo.

Não sei muito bem o que é o saber

tampouco sei querê-lo bem

deixo aos sábios a alegoria da iluminação

no universo que se descortina aos seus olhos


no poder das mãos que garimpam segredos

na eloquência e na magia das palavras

que fazem bramir os deuses aprisionados


na egolatria da essência humana.

Não sei muito bem nem da ignorância

desta falta de saber prepotente

arrogante e proposital

que me faz distante, incólume e aversa

ao saber que corrompe

à luz que transcende e trespassa

reduzindo o obscuro a mera impressão

e fazendo da noite um mistério insignificante.

Não sei, e por não saber me resigno

não me aniquilo, nem me submeto

por outra, mais que isso, me comprometo

a não saber mais do que o pouco contento

que me faz viva, contemplativa, e sabedora

da condição humana

imperfeita, frágil e eternamente inquieta.

E assim me faço, refaço, e vivo

à margem do saber dos sábios


mas bem no centro, no cerne

das perguntas que movem o mundo.

Monica San

(o título é um anagrama da palavra AVESSA, talvez uma brincadeira, talvez não)

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