15 fevereiro, 2010

Eu penso... e quando penso, sinto vergonha de apenas pensar.


"Escolhi esta imagem pela tradução simples e pela beleza inocente de quem realmente "brinca" o carnaval. Que bom seria se o espírito lúdico fosse preservado, e "cair na folia" significasse simplesmente um raro e valioso momento de alegria"



Fiquei pensando no quanto o carnaval é capaz de mobilizar pessoas, mudar rotinas, hábitos, conceitos. Criar situações, mascarar realidades, subjugar necessidades, adiar urgências, forjar atitudes.
Mas também fiquei pensando no quanto o homem é manipulador e agressor da sua própria essência.

O carnaval é parte significativa da nossa cultura, parte da formação de nosso povo, das nossas memórias, da nossa história. É patrimônio cultural portanto, e cuidado com tanta dedicação em nosso país, que é natural chamar a atenção de outros países, encantar outras culturas, despertar a curiosidade de outras "civilizações".
O que não se justifica, é que em nome desta festa que muitas vezes serve de alento para um povo tão sofrido, seja subjugada uma situação tão crítica e tão urgente que castigou o país nos últimos dias.

Acabamos de presenciar a dor de famílias inteiras que perderam entes queridos, perderam suas casas, perderam o pouco que possuíam nas enchentes que devastaram várias regiões por todo país. Também acompanhamos a tragédia de um país assolado pelo terremoto que matou milhares de pessoas, entre elas, muitos brasileiros.
E mesmo diante deste cenário lamentável, da tristeza e da incapacidade humana perante a natureza, que cobra (justamente) nossas atitudes impensadas e irresponsáveis, mesmo assim achamos um jeito de fechar nossos olhos e dar de ombros às reais necessidades do momento.

Nos encantamos com a presença de uma "pop star" mundial no carnaval brasileiro, aclamamos sua "boa vontade" e "humildade" em pisar o nosso solo, visitar comunidades carentes, falar de projetos sociais e acenar seus dólares aos "pobres diabos" que carecem de atenção e alegria.
E nos esquecemos, mais uma vez, do quanto somos responsáveis pelas nossas ações.
Claro que não é errado curtir o carnaval nem é pecado gostar da Madonna, mas será justo que tantas vidas inocentes sejam subjugadas e deixadas em segundo plano quando o grito do momento é: "Viva a Madonna ou Olha a Beija-flor aí gente!!"?

Até quando vamos usar de subterfúgios e elencar eventos de grande monta como valores superiores e compensadores das milhares de vidas que deixamos perderem-se pelo caminho?
Até quando, vamos sambar pela avenida a espera das cinzas da quarta-feira?

Monica San


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