26 maio, 2011

"La vie en rose"

Algumas vezes é preciso despir-se de todo ranço, desfazer-se dos cantos e frestas de estimação que acumularam contas atrasadas, promessas amarrotadas, pedaços de sonhos esquecidos, para sentir-se apenas viva.


Então ela dança. 

Na velha vitrola, companheira dos momentos a sós, Piaf ainda lhe segreda sobre os amores, as desilusões, o sucesso, a dor.
São cúmplices na melancolia que percorre os cômodos agora vazios e imensos, maiores, muito maiores do que a solidão, antes tão temida agora tão íntima e leve. Como leves são os movimentos dos pés descalços que rodopiam pelo salão, deslizam, saltitam, e acompanham incansáveis o vai e vem das mãos delicadas e firmes (ainda), apesar dos pesares.


Nada de escritos hoje, nada das letras rígidas, dos pensamentos medidos, dos desabafos contidos (nunca se diz realmente o que se deseja dizer). Ah, o hiato, há sempre um hiato a incomodar a razão castigada pelo tempo. Razão que aprisiona quando o desejo é libertar.
Mas hoje não. Hoje não há melancolia nas palavras (não nas palavras), nem tristeza, nem razão.
Só a música e a solidão, rodopiando pelos cômodos vazios e imensos. E toda a cumplicidade de quem se sabe, de quem realmente se sabe viva.
Amanhã é outro dia e... quem sabe amanhã... a vida amanheça rosa.

Monica San

4 comentários:

  1. Ah, que belas palavras... As vezes é preciso limpar a mente para se sentir livre de todo o pesar, e assim poder viver com mais intensidade.

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  2. organika.mente muito obrigada, volte sempre!

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